Pesquisadores da Universidade de Barcelona, na Espanha, desenvolveram uma vacina capaz de ajudar o próprio sistema imunológico do portador da Aids a combater a reprodução do vírus HIV. Segundo o médico infectologista e professor de Medicina da Unesp de Botucatu Alexandre Naime Barbosa, o estudo é a evidência mais forte que a literatura médica tem até hoje em relação ao sucesso de uma vacina terapêutica.
“É importante explicar o que é isso. A vacina terapêutica é aquela que ajuda a pessoa que já tem a doença a combater o vírus, bactéria ou qualquer que seja o agente infeccioso que esteja acometendo o paciente. Ela é muito diferente do conceito de vacina que normalmente temos, que é a vacina preventiva ou profilática, cujo objetivo é evitar que a pessoa adquira uma doença que ela, obviamente, não tem”, esclarece.
Para criar a vacina, foram retiradas amostras do vírus do próprio paciente e também de células dendríticas, que são células saudáveis. O teste foi feito em pessoas portadoras da Aids que faziam uso de terapia antirretroviral, ou seja, de medicamentos que ajudam a inibir a replicação do vírus. Os pacientes que participaram do teste pararam de tomar os medicamentos durante certo tempo para que o vírus voltasse a se reproduzir normalmente no organismo. “Em mais de 50% dos pacientes houve uma grande redução na quantidade de vírus no sangue“, relata Dr. Alexandre. Além disso, a vacina resultou em menos efeitos colaterais do que a terapia tradicional.
No entanto, o efeito do novo tratamento dura apenas por um tempo determinado. “Foi possível que esses pacientes controlassem a infecção sem o uso do remédio por mais ou menos um ano”, explica o infectologista. Novos estudos serão feitos para tentar aumentar a durabilidade da vacina.
Prevenção da Aids
Segundo Dr. Alexandre, existe uma sensação de falsa segurança que algumas pessoas têm em relação tratamento contra Aids já existente. “Realmente, o coquetel antiaids, que é a associação de drogas contra o vírus HIV, é uma das maiores vitórias da medicina nos últimos tempos. As pessoas [que fazem uso dele] têm uma excelente qualidade de vida e praticamente a mesma expectativa de vida que a população sem HIV” diz.
“Porém, isso tem um preço”, continua. “Primeiro que as pessoas têm de tomar estes remédios todos os dias sem falha, porque, senão, eles não funcionam, e, pior ainda, o vírus pode ficar resistente. Segundo que estes remédios, tomados há 10, 20, 30 anos, vão levar a efeitos colaterais que podem ser muito sérios. E terceiro que isso tem um custo para o governo, não só dos remédios, mas de toda a estrutura de saúde, como médicos e exames”, explica. “É muito perigoso ter esse pensamento e dizer ‘não vou me proteger porque, se eu contrair HIV, posso tomar remédio’. Pode parecer uma ideia simples, mas tomar remédio pela vida inteira e ainda remédios que podem ter efeitos colaterais não é simples assim”, conclui.
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