Introdução
A prática de turismo em áreas naturais está em forte expansão no mercado nacional e internacional. Dados do Ministério do Turismo apontam um crescimento de 20% no segmento de ecoturismo, sendo configurado como o setor que mais cresceu nos últimos anos. Esse crescimento fomentou a criação de diversos produtos turísticos relacionados à prática, e um notável desenvolvimento dos provedores envolvidos à atividade em áreas naturais.
Evidentemente, tal fato também se manifesta no Brasil, país apontado como um mercado extremamente promissor visto sua notória riqueza natural. Pontos como Fernando de Noronha (PE), Chapada da Diamantina (BA), Bonito (MS, Chapada dos Veadeiros (GO) e Brotas (SP) constam de uma longa lista de destinos de ecoturismo do país. Uvinha (2005, apud Magalhães, 2001 e Brasil, 2000).
"A atividade de aventura está, na maioria das vezes, associada ao turismo na natureza, sendo praticada em unidades de conservação e em seu entorno ou em ambientes naturais relativamente bem preservados, apresentando, portanto, forte intersecção com o ecoturismo, o que leva muitas vezes, à confusão entre as duas atividades." ABETA (2009, p.33)
Os segmentos de ecoturismo e turismo de aventura, algumas vezes, são discutidos e analisados de forma semelhante, e este fator pode ser prejudicial ao planejamento e gestão da atividade turística em ambientes naturais, pois o perfil da demanda é diferente em cada uma das segmentações, e esse fator pode acarretar queda na qualidade dos serviços oferecidos, causando a perda de credibilidade do produto. Entender e estudar a demanda são excelentes ferramentas para a melhoria da prestação de serviços turísticos, pois, uma vez que se conhece o turista, é possível planejar e comercializar os destinos turísticos de forma mais eficaz, garantindo a qualidade da atividade e satisfação do cliente
O presente estudo tem por objetivo fazer uma discussão conceitual sobre o Ecoturismo e o Turismo de Aventura, procurando entender as características motivacionais e expectativas da demanda referente às respectivas segmentações do mercado turístico apontadas, bem como possibilitar maior clareza aos profissionais de empresas que atuam nos mercados emissivos e receptivos a desenvolver produtos e serviços específicos e diferentes estratégias promocionais.
Método
Este estudo teve como metodologia a pesquisa bibliográfica e documental, por meio de revisão teórica e do levantamento de dados da literatura existente sobre a temática em discussão.
Resultados e Discussão
A partir deste contexto, nota-se a importância da segmentação dos destinos que têm como principal produto os espaços naturais, o que caracteriza a prática do ecoturismo, turismo de aventura, turismo ecológico e de natureza, entre outros. Focalizando-se no ecoturismo e turismo de aventura, pode-se dizer que a segmentação destes mercados, contribui para a melhoria dos destinos inseridos na segmentação, por outro lado, provoca confusão conceitual entre as duas modalidades, uma vez que ambas podem existir em um mesmo destino turístico.
O ecoturismo, como modalidade de turismo praticado em áreas naturais, pode ser posicionado como um das modalidades do turismo mais expressivas da atualidade, já que estamos falando de um mundo em que, o Meio Ambiente tornou-se extremamente relevante no dia-a-dia de uma grande parcela da população; parcela esta que busca cada vez mais as práticas de uma atividade sustentável.
Ele surgiu como mais uma opção para a prática do turismo priorizando a educação ambiental, e popularizou com ele a idéia do turismo consciente, não-predatório e bem planejado. Beni (2001, p. 55) afirma que "[...] o ecoturismo não é apenas um turismo tradicional em áreas naturais. É uma atividade que tem de estar indissoluvelmente ligada ao trabalho de educação ambiental."
Já o turismo de aventura recebeu uma concepção mais específica para a atividade apenas em 2001, na elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável do turismo de aventura, realizada em Caeté, MG: segmento do mercado turístico que promove a prática de atividades de aventura e esporte recreacional, em ambientes naturais e espaços urbanos ao ar livre, que envolvam riscos controlados exigindo o uso técnico e equipamentos específicos, adoção de procedimentos para garantir a segurança pessoal e de terceiros e o respeito ao patrimônio ambiental e sociocultural. (BRASIL, 2005, p.10)
Por outro lado, Swarbrooke (2003, p.28) relaciona o Turismo de Aventura à elevação espiritual do participante, atraindo uma proporção cada vez maior da população que está "em busca de auto realização e prazer através de atividades físicas e mentais estimulantes". (ABETA, 2009)
Atualmente diversas discussões conceituais percorrem em torno da definição do turismo de aventura, porém sabe-se atualmente que o risco, a adrenalida e o poder de superação compreendem as principais motivações desta determinada segmentação, "no Turismo de Aventura dá se preferência à atividade física e situações desafiadoras" (ABETA, 2009).
Faz-se necessário primeiramente que traga a definição do termo "aventura". Burnett, em The spirit of Adventure in McMenamin National Geographic (2000, p. 2) define aventura como "uma necessidade humana. Nós a reconhecemos como um desafio, ousado, que nos torna maiores do que nós mesmos. Aventura é a curiosidade humana de ver o outro lado da montanha, o impulso em nós mesmo que nos faz romper as barreiras como menos e liberta para grandes possibilidades".
A aventura existe particularmente em cada ser humano, porém não podemos generalizar a aventura para todas as pessoas de diferentes habilidades, culturas e fatores sociais, muito menos aceitar o uso da palavra aventura relacionado ao conceito de turismo de aventura. (RAMOS,2005)
Não se pode relacionar o termo "aventura" ao turismo de aventura. A aventura está presente na motivação do turista, seja em uma viagem à Austrália, onde ele irá praticar atividades de aventura, seja em um passeio de teleférico no Rio de Janeiro. Em ambas as atividades, a aventura está relacionada, uma como um fator essencial e motivacional, na outra como um fator indireto, porém não menos essencial.
Segundo Farah (2005, p. 28) "é fundamental a compreensão acerca do significado de "atividade de aventura", que implica engajamento do turista em diversas práticas e experiências. Parece que o risco é intrínseco à sua prática, merecendo esclarecimento e abordagem. Da mesma forma, é preciso ressaltar a característica recreativa da experiência, que destaca a superação de limites pessoais, e não a competição,
Porém vale ressaltar que, "em qualquer estágio de aventura, as habilidades são diretamente relacionadas ao conhecimento, à atitude, ao comportamento, à confiança e às experiências individuais somadas à resolução de problemas para evitar conseqüências negativas do risco.(RAMOS,2005)"
È importante citar que, além do fator motivacional, deve ser analisada a questão da comercialização da atividade, uma vez que os atrativos de ecoturismo, geralmente possuem atividades mais leves e rápidas, que se exige menos esforço do turista, porém não menos atenção nos fatores de segurança do turista e do meio explorado. Por isso que, em programas de certificação e qualificação do turismo, como por exemplo, o Programa Aventura Segura, elaborado pela ABETA (Associação Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura), em parceria com o Ministério do Turismo, o Ecoturismo e o Turismo de Aventura são estudados e analisados em conjunto, e por vezes, generalizando a segmentação da atividade.
O importante diferencial de turismo de aventura e ecoturismo deve ser abordado pelos atores que participam efetivamente da atividade turística (agências e operadoras de turismo, empresários, prefeituras e secretarias, guias de turismo, turistas, etc), partindo da análise do contexto motivacional da atividade, ou seja, qual a motivação do turista à prática e qual o contexto da localidade à atividade de aventura.
Segundo Giaretta (2003), a atividade de turismo de aventura busca a aventura ou o perigo e está ligada, diretamente, à questão do desafio, dos riscos calculados, com a intenção de testar os limites, ou seja, uma idéia associada à aventura.
Já Pires afirma que:
o ecoturismo é um segmento turístico em que a paisagem é o principal variável como ponto de confluência dos fatores ambientais e antrópicos. O objetivo é a interação do visitante com o meio natural e humano, e a população local participa dos serviços prestados aos turistas. O ecoturismo prioriza a preservação do espaço natural em que é realizado e seu projeto contempla a conservação antes de qualquer outra atividade. (Pires, 2002,p. 104)
De acordo com as definições supracitadas, a generalização dos segmentos de ecoturismo e Turismo de aventura, algumas vezes, pode ser prejudicial ao planejamento e gestão da atividade turística em ambientes naturais, pois o perfil da demanda é diferente em cada uma das segmentações e esse fator pode acarretar queda na qualidade dos serviços oferecidos, causando a perda de credibilidade do produto.
Logo, dependendo da intenção e expectativa inicial do turista, o risco pode ser um fator limitante à prática de qualquer atividade de aventura, uma vez que o turista pode sentir-se inibido e apreensivo ao praticar uma atividade de risco sendo a motivação do mesmo, especificamente a interação com o meio natural e cultural do espaço visitado, caracterizando a segmentação do ecoturismo. Já o turista de aventura, que tem como motivação principal o próprio risco e busca a adrenalina em atividades de aventura, e essa demanda procura cada vez mais atrativos que dêem essa garantia. Porém, Andrade, 1998, afirma que nem todo aventureiro procura perigos em tempo integral, como nem todo turista aprecia o imobilismo ou os permanentes controles dos empresários e profissionais de turismo que - para diminuir responsabilidades e evitar possíveis riscos - criam um confinamento ao cumprimento de programações de estranha e desnecessária rigidez.
Essa discussão de conceitos se mostra relevante, pois permite aos profissionais que atuam no setor uma análise mais específica de cada demanda, e conseqüentemente, facilitando a comercialização dos destinos turísticos relacionados às respectivas segmentações do mercado turístico. Observar e estudar a demanda e suas diferenças motivacionais é um importante exercício para a melhoria dos serviços turísticos oferecidos, e uma maneira de garantir a qualidade e expectativas iniciais do turista, que afinal, é o principal ator deste processo.
Agradecimentos
Agradecemos ao curso de Turismo da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul pelo apoio institucional neste trabalho.
Referências
ABETA, Diagnóstico do Turismo de Aventura no Brasil. - Belo Horizonte: Ed. Dos autores, 2009. (Série Aventura Segura)
Beni, Mário Carlos. Análise Estrutural do Turismo. São Paulo, 2001.
Brasil, Ministério do Turismo. Regulamentação, normalização e certificação do turismo de aventura. Relatório Diagnóstico. Brasília: Ministério do Turismo, 2005.
Farah, S.D. Políticas de incentivo ao turismo de aventura no Brasil: o papel do Ministério do Turismo. In: Turismo de Aventura: Reflexões e Tendências. Uvinha, Ricardo Ricci. São Paulo: Aleph, 2005.
Jensen, R. The dream society: how the coming shift from information to imagination will transform your business. Nova York: MaGrow-Hil, 1999.
Pine II, B,J,; Guikmore, J.H. The experience economy: work is theatre & every business is a stage. 1999.
Pires, Paulo do Santos. Dimensões do Ecoturismo - São Paulo: Ed. SENAC, São Paulo, 2002.
Ramos, Marcelo Valente. Aventura e Turismo de Aventura: Faces Mutantes. In: Análises regionais e globais do turismo brasileiro. Trigo, Luis Gonzaga Godói. (Eds), 2005
Swarbrooke, J, et al. Turismo de Aventura: conceitos e estudo de caso. Trad. Marise P. Toledo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
Uvinha, Ricardo Ricci. Turismo de Aventura: reflexões e tendências - São Paulo: Aleph, 2005 - (Série Turismo)
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