Sempre pensei em ter filhos. Estava aguardando a melhor hora. Para mim, a melhor hora é quando estivesse me sentindo preparada para assumir o papel de Mãe. Depois de sete anos de casamento, então, a melhor hora chegou.
Mas, meu sonho é um pouco diferente do que a maioria das pessoas sonha. No meu sonho ainda não aparece barriga, nem maternidade, nem hora do parto. Ainda não. Comecei a sonhar primeiro com um processo judicial, uma longa espera e um orfanato.
E alguém explica as coisas que vem do coração?
Chegou o dia em que esse sonho não seria mais adiado, por que ele ficou imenso. Corri para a Vara da Infância e tudo começou. No momento em que os documentos começaram a ser providenciados, escaneados e preenchidos, aquela sensação de “serei Mãe” começou a tomar conta de mim. Quando isso aconteceu, deu uma vontade imensa de compartilhar com as pessoas.
Os primeiros a saberem foram os Avós e os Tios, nossa decisão foi aprovada e completamente apoiada. Depois, começamos a falar com outros familiares e alguns amigos. Quanto mais pessoas sabiam, mais me espantava com algumas reações. Apesar de vivermos em uma época onde tudo é discutido, onde as informações circulam livremente, onde as pessoas se dizem liberais, a decepção nos olhos de algumas delas me marcaram e me mostraram que nem todos entendem as escolhas dos outros. Especialmente se sua escolha fugir daquilo que é considerado “normal”. Casar, engravidar.
Quando anuncio minha decisão, a reação é completamente diferente do que se contasse que estou grávida, tenho certeza. No caso da gravidez eu receberia “Parabéns”, no caso da adoção eu recebo “Mas por quê? Vocês não podem ter filhos?”. Sim, eu posso ter filhos, tanto posso que estou em processo para ter um!
Dizem que os olhos são a janela da alma, e o que enxergo nessa janela é algo como “Coitadinha, acho que não pode engravidar”. Isso me espanta. Dá pra contar nos dedos de uma mão aqueles que me abraçaram e sentiram minha felicidade.
Quero adotar por que meu coração quis assim. Por que desde muito cedo senti que teria uma criança que seria minha companheira de vida, e que ela não viria de dentro de mim.
Fica aqui um apelo: Quando alguém comunicar uma adoção, não pergunte o porquê, contente-se em oferecer o que existe de melhor, um abraço. Por que este alguém está compartilhando com você a decisão de ter um filho! Nessas horas não é necessário falar, só sentir. E, se por acaso, a escolha for baseada em algum problema para engravidar, deixe a pessoa à vontade, para te contar, ou não.
Este texto foi escrito em primeira pessoa, mas nada disso seria possível sem o apoio incondicional do meu marido, que sempre esteve ao meu lado e sonha tudo isso junto comigo.
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