- Quando os filhos resolvem se unir, dando cobertura um ao outro, tornam-se uma potência
A cena é aquela clássica, conhecida de quem já teve ou assistiu a cúmplices com laços de sangue. Estão lá os irmãos a confabular, ora concordam ora discutem, a fim de conquistar um objetivo em comum: promover o fortalecimento da categoria para conviver com a força maior que dita as regras dentro da casa –e os pais!
Essa união recebeu, por aqui, o pomposo nome de corporativismo fraternal. Sim, porque eles podem brigar, se desentender e até competir, mas uma coisa logo fica claro para aqueles que são pais de dois ou mais: filhos unidos se tornam uma potência. Eles se ajudam, se protegem, pactuam e testam a confiança mútua nas mais diversas circunstâncias. Quem estiver na linha de frente das negociações com este verdadeiro sindicato familiar precisará de ternura e jogo de cintura.
Não faz muito tempo, o cotidiano me apresentou um desses imbróglios entre minhas duas filhas.
Uma provoca. A outra empurra. Uma sai correndo. A outra puxa a camiseta e a irmã cai e chora. Uma e outra, em cada canto do sofá, ouvindo o sermão da mãe:
– As duas provocaram a briga e por isso as duas vão perder um brinquedo como castigo! Vocês conversem entre si e decidam o que cada uma vai perder!
Fiquei muito curiosa para saber até onde iria a autonomia delas na resolução desse conflito e enxerguei diversas possibilidades entre a dor e o amor para o fim dessa história. Elas podiam se sacanear e apontar uma saída onde ficariam ambas bravas e sem seus brinquedos como também podiam, de fato, promover o tal do corporativismo fraternal, onde ninguém perder nada também era uma opção contanto que fizessem as pazes.
Me escondi atrás da porta (que mãe nunca?) para ouvir o seguinte diálogo:
– Eu acho que você tem que perder a boneca nova. Ela é sua preferida.
– Bom, se eu perder a boneca você tem que perder um preferido seu também.
– Ah, é? Então vou te falar qual é meu brinquedo preferido...
– Fala aí, qual é que eu vou contar pra mamãe!
– Meu preferido é, é, é... É uma roupa!
Claramente minhas premissas sobre fraternidade, união e as possibilidades que essas duas coisas envolvem foram superadas por uma manobra ninja, onde uma delas conseguiu achar um atalho alternativo e espirituoso para o desfecho. Coube a mim resolver o impasse assumindo o papel de mãe juíza, aquela que com muita imparcialidade tenta conduzir pacificamente a reconciliação dos eternos conflitos entre irmãos.
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